segunda-feira, 30 de maio de 2016

Estruturas e processos de formação das palavras

Estamos em constante contato com as palavras, seja através da escrita ou da oralidade. Há oportunidades de conhecer novos vocábulos através do contato com as pessoas e das leituras, porém não analisamos como se formam e como são as estruturas das palavras, simplesmente utilizamos sem nos atermos a essa questão.  
Para compreender como ocorrem os processos básicos pelos quais se formam as palavras é importante estudar os elementos que as constituem, os morfemas. Segundo Cunha e Cintra (2008, p.90), os morfemas são as unidades significativas mínimas que, ao se unirem, compõem cada palavra, formando um todo semântico. Existem diferentes processos relativos à construção de um novo vocábulo.
Os morfemas, partes mínimas das palavras são os radicais e afixos.
Os radicais -  são os núcleos de significado das palavras e permanece intacto quando a palavra é alterada. Exemplos: terra, terreno, terreiro. Entretanto, pode ocorrer mudanças em algumas palavras, como por exemplo: dormir-durmo, querer-quis. Vale ressaltar ainda, que as palavras compostas por dois radicais recebem a denominação de palavras compostas como, por exemplo: passatempo.
Os afixos - são elementos que se unem ao radical para a construção de novas palavras. Podem ser classificados como prefixos e sufixos:
·        Os prefixos - são elementos colocados antes do radical. Como por exemplo: Subsolo, Hipertensão.
·        Os sufixos - são elementos colocados após o radical. Como por exemplo: Beleza, Felizmente.

A vogal temática é o elemento que se junta ao radical de um verbo ou de um nome para fazer uma ligação entre a vogal e a desinência. O radical acrescido da vogal temática recebe o nome de tema. Um exemplo é o verbo cantar, que possui o radical cant- (cantador, cantor, cantável), a desinência é –r. Na língua portuguesa não é possível fazer a ligação de cant- + -r, pois é necessário acrescentar mais um elemento, que é a vogal temática. Então temos: Cant- (radical); Canta- (tema, que é radical+vogal temática); e cantar (tema + desinência).



As vogais temáticas identificam as conjugações verbais como: Em – a - verbos da primeira conjugação (falar, cantar). Em – e - verbos da segunda conjugação (beber, vender) e em – i - verbos da terceira conjugação (partir, sair).       O Tema é constituído do Radical + vogal temática ou desinência nominal. Como por exemplos: Falar; Tremer; Exibir.
As vogais e consoantes de ligação intercalam-se na palavra, normalmente entre o radical e o sufixo ou entre radicais, em algumas palavras compostas, para facilitar a pronúncia.
Veja os exemplos: pau/l/ada, cha/l/eira, café/t/eira (são consoantes de ligação). Café/i/cultura, (são vogais de ligação).

Desinência - são elementos que ao serem acrescentados no radical indicam gênero e número para desinência nominal e expressa modo, tempo e pessoa para desinência verbal (usado somente em verbos). Exemplos: Cachorro - cachorra; funcionários - funcionárias.
         Assim como vimos as estruturas das palavras, estudaremos os processos de formação. No processo de criação das palavras são utilizados diferentes recursos, conhecê-los é importante não apenas para compreender a estrutura interna dos vocábulos, mas também para entender como os diferentes processos de formação interferem no sentido dos enunciados.
A formação das palavras ocorre por dois processos básicos: a derivação e a composição. A diferença reside no processo de derivação, que parte de um único radical, enquanto em composição haverá mais de um radical.
A derivação - consiste na formação de palavras novas (derivadas) a partir de palavras já existentes na língua (primitivas). Existem diferentes tipos de derivação: prefixal ou prefixação, sufixal ou sufixação, parassintética ou parassíntese, regressiva e imprópria ou conversão.

Vamos compreender melhor esses processos:
·        Derivação prefixal - ocorre quando há acréscimo de um prefixo a um radical.
Ex: Infiel (inf + fiel) > (prefixo+radical).
         Desleal (des+leal) > (prefixo+radical)

·        Derivação sufixal - ocorre quando há acréscimo de um sufixo a um radical.
Ex: Felizmente (feliz+mente) > (radical+sufixo)
                  Espaçosa (espaç+osa) > (radical+sufixo)

·        Parassintética - ocorre quando há acréscimo simultâneo de um prefixo e um sufixo a um radical.
 Ex: Entardecer (em+tard+ecer) > (prefixo+radical+sufixo)
                  Empalidecer (em+palid+ecer) > (prefixo+radical+sufixo)

Atenção: Para que haja a derivação parassintética é necessário o acréscimo do prefixo e do sufixo ao radical, feito isso iremos compreender se ocorreu a parassíntese, basta retirar o prefixo ou o sufixo e verificar se a forma que sobrou constitui uma palavra existente na língua. Se a forma que sobrou não tiver sentido, a palavra foi formada por derivação parassintética. Uns dos exemplos são: (en)tristecer – tristecer. Ambas as palavras são inexistentes na língua: entrist(ecer)entrist. Portanto a palavra entristecer foi formada por derivação parassintética. Caso a forma que sobrou da eliminação do prefixo ou do sufixo seja uma palavra existente na língua, terá sido formada por derivação prefixal e sufixal. Como por exemplo: (in)felizmente: felizmente é palavra existente na língua. Infeliz (mente): infeliz é palavra existente na língua. Portanto a palavra infelizmente foi formada por derivação prefixal e sufixal, ou seja, acréscimo não simultâneo de prefixo e sufixo.

·        Regressiva - ocorre quando a palavra nova é formada pela redução da palavra primitiva. Esse tipo de derivação forma substantivos a partir de verbos. Segue uns exemplos: Palavra primitiva: chorar, combater, criticar, castigar. Palavra derivada por derivação regressiva: choro, combate, critica castigo.

·        Imprópria - ocorre quando há mudança da classe gramatical de uma palavra primitiva sem alterar sua forma. Exemplo: O jantar estava ótimo. (A palavra jantar é um verbo, mas na frase funciona como substantivo). Ninguém entendeu um o porquê da discussão. (A palavra porque é uma conjunção, mas na frase funciona como substantivo).


Composição - Ocorre quando a palavra é formada pela união de dois ou mais radicais. A composição pode ocorrer por justaposição ou por aglutinação.
A justaposição ocorre quando não há alteração dos radicais que se unem. Exemplos como: passatempo, pé-de-moleque, couve-flor, pontapé, amor-perfeito, bem-te-vi, flor-de-maio, guarda-costas, girassol, passatempo, porta-bandeira, quebra-cabeça, sexta-feira, vaivém etc.

Já a aglutinação ocorre quando há alteração em pelo menos um dos radicais que se unem. Como por exemplo: planalto (plano + alto), embora (em + boa + hora), aguardente (água + ardente, etc.
Formação de Palavras
Radical, vogal temática, tema

sábado, 21 de maio de 2016

Tá na boca do povo: gêneros textuais de tradição oral

Lendas, contos, adivinhas, fábulas e provérbios são exemplos de gêneros textuais de tradição oral. Esses gêneros textuais preservam histórias e costumes através da oralidade, dessa forma, contribui para a formação da identidade cultural. Para compreender melhor como são esses gêneros textuais, vamos conhecer alguns deles.
A lenda – Consiste na narrativa transmitida pela tradição oral através dos tempos, que combina fatos reais com irreais. Geralmente, as lendas surgem para explicar fatos que não tem uma explicação científica, como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais.
EX: “O Saci Pererê” e “A loira do banheiro”.
O Conto – Trata-se de uma narrativa em prosa com pouca extensão que apesenta algumas características do romance. O conto caracteriza-se pela concisão, a precisão, a densidade e a unidade de efeito.
EX: “Chapeuzinho vermelho” e “João e o pé de feijão”
A Adivinha ou adivinhações – São perguntas e respostas de humor com conteúdo desafiador e dúbio.
EX: O que é o que é surdo e mudo, mas conta tudo?
Resposta: o livro.
A fábula – É uma narrativa alegórica na qual os personagens são animais com características humanas. A fábula tem o objetivo de transmitir uma lição de moral.
EX: “O leão e o rato” e “A cigarra e a formiga”
O Provérbios ou Ditado Popular – Consiste numa sentença popular que expressa de forma sucinta uma ideia ou pensamento.
EX: “Água mole em pedra dura, tanto bate, até que fura.”

Maíra de Jesus e Thainara Souza

Graduandas no Curso de Licenciatura em Letras, Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Ciências Humanas – Campus V.
Calma! Até o texto explicativo tem explicação!
Texto explicativo

O texto explicativo apresenta esclarecimentos sobre determinado fato ou assunto, através de descrições, exposição das características, argumentos, definições e exemplos, ou seja, todas as informações referentes ao tema que o texto vai apresentar. Trata-se de um texto literal, isto é, explica o fato ou assunto exatamente como é, sem permitir outras interpretações. Portanto, o texto explicativo deve ter uma linguagem clara e objetiva para que o leitor compreenda as informações que estão sendo fornecidas e não as interpretem de maneira equivocada.
Vale ressaltar que é recomendável a utilização da 3ª pessoa do plural ou do singular e o uso de título não é obrigatório em todos os casos e quando usado deve ser coerente com o tema que o texto trata. Alguns exemplos de textos explicativos são: redações, manuais, bulas de remédios, receitas, artigos, etc.

O texto explicativo deve ser estruturado da seguinte forma:


Ø  Introdução – Trata-se do início do texto. Nessa parte deve conter a apresentação do tema que será abordado e os problemas que serão discutidos, de uma maneira que convide o leitor para conhecer o texto. Portanto, é indicado o uso de originalidade na introdução e evitar o uso de chavões, bem como o desvio do tema e o uso de períodos longos. A introdução é uma espécie de síntese do que o texto vai abordar.
Ø  Desenvolvimento – Considerado o “corpo” do texto, essa parte é dedicada ao desenvolvimento do tema do texto, ou seja, é o momento de apresentar as argumentações, informações e exemplos referentes ao tema. Contudo, deve ser evitado o uso excessivo de exemplos ou de exemplos que não se adequam ao tema do texto, bem como o uso de repetições.
Ø  Conclusão – É o momento de sintetizar as ideias apresentadas e propor soluções para os problemas discutidos. Na conclusão o posicionamento do autor ganha maior evidencia, portanto, deve estar coerente com o que foi introduzido e desenvolvido. Contudo, vale ressaltar que não é necessário avisar que vai concluir o texto utilizando expressões como: “Para concluir...”, “Concluindo...”, “Em resumo...”, etc. Prefira expressões com a ideia de síntese e que retome o que já foi dito, como: “Diante disso...”, “Dessa forma...”, “Diante do exposto...”, “Portanto...”, etc.

Vejamos um exemplo:

O verdadeiro preço de um brinquedo

É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a existência de personagens famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, tendo em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?
Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais artifícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Brasil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.
O problema surge quando tal discurso é direcionado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crianças, em grupo, utilizando o produto em questão. Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de discernimento infantil.
Fica clara, portanto, a necessidade de uma ampliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etária em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.

Redação Enem nota 1000 – Ano 2014
Candidato: Carlos Eduardo Lopes Marciano, 19 anos (RJ).
Disponível em: http://blogdoenem.com.br/redacao_enem_nota_1000/

Maíra de Jesus.
Graduanda em Letras, Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Ciências Humanas  Campus V.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Bateu a dúvida?

CONSEGUIR OU CONSEGUI?

As duas formas existem enquanto palavras dicionarizadas (existentes no dicionário), mas na hora de escrever muita gente se confunde quanto ao seu emprego e isso pode mudar o sentido da frase. A dúvida reside em quando se deve utilizar conseguir (INFINITIVO) e consegui (FORMA FLEXIONADA ou CONJUGADA).
CONSEGUIR: É a forma com a qual o verbo se apresenta naturalmente, sem nenhuma conjugação; é o “nome” do verbo. Diz-se que é o verbo no infinitivo impessoal. É a forma que está pronta para ser conjugada.
Quando se diz que um verbo está no infinitivo impessoal, isso significa que ele apresenta sentido genérico ou indefinido, não relacionado a nenhuma pessoa, e sua forma são invariáveis. Assim, considera-se apenas o processo verbal.
Existe também o infinitivo flexionado por pessoa, que é uma forma conjugada do verbo CONSEGUIR, chamado de INFINITIVO PESSOAL, isso significa que ele atribui um agente ao processo verbal, flexionando-se.
Ex. 1) Para conseguir o emprego ele precisou estudar.
      2) Tenho certeza de que vou conseguir o emprego. (locução verbal com verbo auxiliar ir).    
          Tenho certeza de que conseguirei o emprego. (forma sem o verbo auxiliar).

CONSEGUIR é verbo transitivo e significa: obter algo ou alcançar algum objetivo, meta ou posição.

CONSEGUI: É a forma conjugada do verbo CONSEGUIR na 1ª pessoa do singular (eu) do pretérito perfeito do modo indicativo. É usada principalmente para indicar uma ação que ocorreu num determinado momento do passado. 
Eu consegui        (Ex. Eu não consegui o emprego).
Tu conseguiste
Ele conseguiu
Nós conseguimos
Vós conseguistes
Eles conseguiram
CONSEGUI: Alcancei, ganhei, obtive (Ex. Consegui o emprego que eu queria).
Consegui pode ser também a forma conjugada do verbo conseguir na 2.ª pessoa do plural do modo imperativo: consegui vós.
É, contudo, uma forma verbal pouco utilizada pelos falantes da língua portuguesa brasileira. 
A mesma dúvida ocorre também com outros verbos, como dar, estar, ler, ver, pedir...
Exemplos:
Ele dá aulas de piano em casa.
Ele quer dar aulas de piano em casa.
Meu irmão não está na festa. 
Meu irmão não vai estar na festa. (locução verbal com verbo auxiliar ir)
Ele fica triste quando não vê a mãe.
Ele fica triste sem ver a mãe.
Eu pedi calma aos estudantes

Eu não vou pedir calma a ninguém (não pedirei).

Antonio Tibério


Graduando no Curso de Licenciatura em Letras, Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Ciências Humanas – Campus V.